Aug 26, 2025
Por que as mulheres mudam de escolha ao longo da gestação?
Uma pesquisa nacional, chamada “Processo de decisão pelo tipo de parto no Brasil: da preferência inicial das mulheres à via de parto final” (SCImago Institutions Rankings, DOI: 10.1590/0102-311X00105113), revelou um dado preocupante: no início do pré-natal, cerca de 70% das mulheres desejam um parto normal, enquanto apenas 30% optam pela cesárea.
Entretanto, ao final da gestação, principalmente nas maternidades privadas, os números se invertem: as taxas de cesárea chegam a 85% a 90%.
Por que tantas mulheres que sonhavam com o parto normal terminam em uma cesariana? Será que foi realmente uma escolha delas ou um sistema que conduz e condiciona essa decisão?
Cesáreas desnecessárias: um reflexo de um sistema cesarista
As indicações de cesárea deveriam ser baseadas em evidências científicas e critérios clínicos reais. No entanto, o que se observa na prática é que muitas cesáreas são realizadas sem necessidade médica.
Alguns exemplos comuns de justificativas equivocadas incluem:
- “O cordão está enrolado no pescoço do bebê.”
- “O bebê é muito grande.”
- “O colo do útero não dilatou o suficiente.”
Grande parte dessas situações não são, isoladamente, indicações reais de cesárea, mas acabam sendo utilizadas como argumento para interromper o trabalho de parto.
Essas decisões, muitas vezes, refletem falta de informação, pressa institucional ou insegurança técnica diante de partos que demandam mais acompanhamento e paciência.
Informação é poder e segurança
O sistema obstétrico brasileiro ainda é marcado por uma cultura cesarista. Mudá-la levará tempo, mas isso não significa que a mulher precise se submeter a esse fluxo sem questionar.
Você precisa mudar o desfecho da sua gestação. E o primeiro passo é ter informação
Buscar informações de qualidade sobre o parto é o caminho mais eficaz para garantir que a decisão final seja realmente sua, e não imposta. Isso significa compreender:
- Quais são as indicações reais de cesárea
- O que é o parto humanizado e como ele respeita o ritmo do corpo
- Como montar uma equipe alinhada, que compartilhe dos seus valores e saiba conduzir o parto com segurança
- E, principalmente, como se preparar emocional e fisicamente para o trabalho de parto
A importância de uma equipe que respeite suas escolhas
Ter ao seu lado uma equipe que entenda o parto como um processo fisiológico e não como um evento médico de risco faz toda a diferença.
A gestante precisa sentir-se segura, amparada e ouvida, não apenas durante o parto, mas desde o início do pré-natal. É nesse vínculo de confiança que nasce a autonomia da mulher para tomar decisões informadas e conscientes.
O papel do profissional é oferecer conhecimento e suporte técnico, não conduzir a escolha pelo tipo de parto.
O que dizem os estudos
O estudo “Processo de decisão pelo tipo de parto no Brasil: da preferência inicial das mulheres à via de parto final” (SCImago Institutions Rankings, DOI: 10.1590/0102-311X00105113) confirma o impacto do sistema sobre a decisão das gestantes.
Os dados mostram que, mesmo quando a gestante inicia o pré-natal desejando o parto normal, as práticas institucionais e a falta de informação acabam levando a maioria delas a uma cesárea.
Esses números reforçam a urgência de políticas públicas, capacitação profissional e, principalmente, empoderamento através da informação.
Protagonistas de suas próprias histórias
A decisão sobre o tipo de parto deve ser da mulher, baseada em informação, evidência e respeito. O sistema ainda tem um longo caminho a percorrer, mas a mudança começa com cada gestante que busca conhecer seu corpo, suas opções e seus direitos.
Busque informação, questione, converse com profissionais em quem confia. E, acima de tudo, lembre-se: o parto é seu. Você e o seu bebê são os protagonistas dessa história.
Dra. Midiã Vergara Bandeira
Ginecologia Obstetrícia
CRM 28972-PR RQE 19354