Entenda o que realmente significa um nascimento humanizado
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Oct 13, 2025

Entenda o que realmente significa um nascimento humanizado

Quando falamos em parto humanizado, a primeira imagem que vem à mente de muitas pessoas é a de um parto normal, sem intervenções médicas. Mas será que uma cesariana também pode ser humanizada?

A resposta é: sim, pode. E deveria ser sempre assim. O parto humanizado não é sobre o tipo de parto, mas sobre respeito, informação e segurança para a mãe e o bebê.

O que é parto humanizado de verdade?

O termo humanização do nascimento se refere a um modelo de cuidado centrado na mulher e na família, em que as decisões são compartilhadas e baseadas em evidências científicas, e não apenas na rotina hospitalar ou na conveniência médica. Isso significa que humanizar é respeitar:

  • As vontades e escolhas da mulher
  • O ritmo natural do corpo, e do bebê
  • As condições clínicas reais de cada gestação
  • O direito à informação e consentimento em todas as etapas

Portanto, um parto normal pode não ser humanizado, se for conduzido de maneira desrespeitosa, e uma cesárea pode (e deveria sempre) ser humanizada, quando realizada com empatia, transparência e cuidado.

Quando a cesárea é a escolha mais segura

Um dos princípios básicos da humanização é a medicina baseada em evidências. E, em algumas situações, a cesárea é a melhor e mais segura opção, tanto para a mãe quanto para o bebê. Alguns exemplos de indicações reais para uma cesárea incluem:

  • Descolamento prematuro de placenta
  • Desproporção céfalo-pélvica: quando o bebê não consegue passar pelo caminho do útero até o mundo exterior (evento raríssimo quando a mulher recebe suporte adequado)
  • Alteração de vitalidade fetal: quando as batidas do coração do bebê estão alterados de maneira anormal
  • Prolapso de cordão
  • Placenta prévia
  • Vasa prévia
  • Fetos transversos

Nesses casos, a humanização está na conduta ética e empática do profissional, que explica os motivos, apresenta as alternativas e garante que a mulher participe ativamente da decisão.

Não é por ser uma cesárea que ela deixa de ser humanizada. O importante é que o nascimento seja pautado no respeito e nas evidências.

O que torna uma cesárea humanizada

Uma cesárea humanizada pode incluir diversas práticas que valorizam a experiência da mãe, tornando o momento do nascimento mais afetivo e acolhedor:

  • Explicação clara sobre o procedimento e os motivos da cirurgia

  • Indicação correta do procedimento

  • Presença do(a) acompanhante de escolha da gestante

  • Ambiente mais calmo e respeitoso, com luzes reduzidas e ruído controlado

  • Contato pele a pele imediato entre mãe e bebê

  • Estímulo à amamentação ainda na sala de parto

  • Clampeamento tardio do cordão umbilical, quando possível

Essas medidas simples transformam o ato cirúrgico em um momento de vínculo e protagonismo, mesmo dentro de um centro cirúrgico.

O problema não é a cesárea. É a cesárea sem necessidade

O grande desafio está no número crescente de cesáreas realizadas sem indicação médica.

Muitas mulheres são levadas à cirurgia sem terem tido a oportunidade de escolher, ou sem compreender os riscos e alternativas possíveis.

A humanização, nesse contexto, é também uma ferramenta de empoderamento. É garantir que cada mulher tenha voz ativa no próprio parto, entendendo os motivos e participando das decisões sobre o seu corpo e o nascimento do seu bebê.

Humanizar é respeitar

Seja parto normal ou cesárea, o que realmente importa é que o nascimento seja seguro, consciente e cercado de cuidado. A cesárea humanizada existe e representa exatamente isso: um encontro entre a ciência, a empatia e o cuidado.

Dra. Midiã Vergara Bandeira
Ginecologia Obstetrícia
CRM 28972-PR RQE 19354